“A casa é a província, o lugar fechado dos enredos, o cenário breve das vidas, onde tudo tende à decomposição.” É com esta frase que a pintora e escritora Mónica Baldaque encerra o texto introdutório de “Vinte Anos na Província” e abre a porta de casa do seu imaginário aos leitores transeuntes.
Mal entramos somos projectados involuntariamente para a cadeira de espectador de uma peça de teatro que está a passar o diálogo entre Florbela Espanca e o seu irmão Apeles por intermédio de Alma, única personagem no palco que convive com as duas vozes off. É o único conto do livro com esta marca formal e, talvez, o calcar de uma posição já defendida por sua mãe, a escritora Agustina Bessa Luís, no livro “A Vida e Obra de Florbela”, de que a famigerada relação incestuosa entre Espanca e seu irmão não passou de um amor profundamente fraterno entre irmãos que partilhavam o mesmo universo intelectual.
As vozes que conseguimos ouvir neste primeiro conto dilatam-se pelos restantes na pele de outras identidades. São vozes que ecoam das profundezas da consciência dos personagens, que tanto servem para questioná-los como para alertá-los. Esta é uma característica transversal à obra escrita de Baldaque: mostrar as diferentes matizes existenciais dos personagens através de diálogos com a própria consciência ou com quem já partiu e deixou marcas de saudades.(http://www.ruadebaixo.com/vinte-anos-na-provincia-monica-baldaque-17-06-2013.html)