É a viagem à raiz do problema. “Tenho de lhes dizer que não há dinheiro para eles, mas há para submarinos, para salvar bancos, pagar os juros da dívida e as parcerias público-privadas.” Chalana chama-lhe PPP – Plano Ideológico de Perseguição aos Pobres. E, por isso, não vacila perante esquemas de sobrevivência a fazer respirar o Lagarteiro. Há uma casa livre no bloco 2, entrada 39, casa 31: se a dona Alcina mudasse a morada para lá, passava a ter direito ao subsídio. Houve um corte de luz feito pela EDP a uma senhora cujo filho anda em cadeira de rodas e depende da electricidade para a carregar: se for feita uma ligação directa no contador o problema fica resolvido.
— Não é correcto do ponto de vista ético? Não. Legal? Não. Mas como se socorre estas pessoas no imediato? Esperar a revolução e uma mudança na lei do RSI não é exequível.
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Há um problema de raiz no entendimento da cidade. Quando a estrada da Circunvalação foi construída, em 1875, rodeou o Porto e definiu-lhe, em quase todo o território, limites administrativos. Mas houve excepções, reservadas a alguns núcleos das freguesias de Paranhos e de Campanhã. “Há aqui um território que é esquecido, e até diria mais do que isso: muitos portuenses consideram que não é Porto”. A análise do geógrafo Rio Fernandes, docente da Universidade do Porto, iliba o ambiente natural da zona. O que fracassou, diz, foram as mecânicas de urbanização a impor “limites psicológicos” à frequesia para lá ou para cá da linha de comboio, para lá ou para cá da Circunvalação, para lá ou para cá da VCI, para lá ou para cá do vale.
— Mariana Correia Pinto, Porto, última estação, Fundação Francisco Manuel dos Santos, Setembro de 2017, pp. 20-1 e 76-7.
Nõtula: «A autora desta publicação não adoptou o novo Acordo Ortográfico» (p. 4).