Nos aspectos analisados até agora, a paródia ao romance policial satiriza sobretudo a actuação policial e o ambiente social vivido na época dos eventos narrados, sátira que se baseia em grande medida no facto de o regime criticado já ter caído e as suas características negativas serem conhecidas pelo leitor, supondo-se, portanto, competência ideológica da parte do leitor: supõe-.se que o leitor avalia negativamente a autoridade legitimadora da actuação policial em Balada da Praia dos Cães. Um leitor que não o faça lerá com maior dificuldade este romance como uma paródia do romance policial, ficando apenas pelo primeiro nível, o do romance policial propriamente dito. Ou seja, o horizonte de expectativas do leitor português de Balada da Praia dos Cães inclui uma valoração negativa da autoridade vigente em 1960.
Marco Neves, José Cardoso Pires e o leitor desassossegado, Guerra & Paz, 2018. p. 81.
Nótula na página 4: “A presente edição não segue a grafia do novo acordo ortográfico” (negritos no original).